A Muvuca de sementes, por Paolo Sartorelli, Eng. Florestal esp. em restauração ecológica 


Por muitos anos o único método de restauração florestal para áreas onde o potencial de regeneração natural é nulo ou muito baixo, foi o plantio de mudas.
A partir de 2006, mais precisamente no Mato Grosso, surgiu um método alternativo ao plantio de mudas, a muvuca de sementes. Este carinhoso apelido, para esta forma de semeadura direta, foi dado pelos técnicos do ISA – Instituto Socioambiental, quando depois de tentativas e erros chegaram a uma composição ideal de quantidade de sementes e de espécies para que a muvuca chegasse a um sucesso a partir da prática.
Em 2011, já com a Baobá Florestal fundada, fui conhecer este método, que para mim, ainda que pairasse muita desconfiança, muito em razão de ler e observar iniciativas acadêmicas que não se demonstraram grande sucesso na semeadura direta. Quando vi em campo áreas de muvuca com 6, 12, 24, 36 e 60 meses, não precisei de mais nada para me convencer do método eficaz e certo, bem como de estar diante da vanguarda da restauração florestal, no qual fiz questão de adquirir toda expertise possível.
Fiz diversas muvucas no oeste da Bahia e nos primórdios ainda não tinha diversas respostas que hoje compõem o meu repertório sobre a técnica.
A primeira coisa que percebi é que muvuca, a de sementes, apesar do seu nome, não é bagunça. Precisa de conhecimento multidisciplinar, como botânica, ecologia, matemática, fisiologia, sucessão ecológica, solos, maquinários agrícolas etc. Além dessa bagagem imensa acadêmica, outras não menos importantes, a começar pelo fator humano, em ter formas eficientes de relacionar com as pessoas do campo, em especial as (os) coletores de sementes. Coletores de sementes em geral são pessoas desassistidas pelo Estado, pertencentes ao território da restauração florestal, e que podem e devem ser incluídas no processo de restauração com muvuca.
Esclarecimentos sobre muvuca
Dito isso, a muvuca em si é a mistura de sementes de espécies nativas, espécies de adubação verde e um material para homogeneizar as sementes, como areia ou terra. Portanto, a muvuca é a mistura de tudo isso e não a forma de plantar! Essa, pode ser manual, substituindo a muda por uma porção de muvuca semeada na cova ou mesmo mecanizada, bastam um trator e três implementos (grade aradora, calcalhadeira e grade niveladora) para plantar muvuca.

O método da muvuca tem três vantagem em relação ao plantio de mudas: ecológica, econômica e socioambiental.
Ecológica porque se bem planejada e manejada, a área de muvuca já pode apresentar resultados exigidos pela Cetesb, precocemente, ou seja, para um resultado pelo órgão ambiental exigido no 20° ano de plantio, a muvuca pode entregar com 3, 4 ou 5 anos. Além de estabelecer mais árvores até 6 (seis ) vezes mais que o plantio convencional de mudas.
Econômico: A muvuca é mais barata a depender da escala de implantação, podendo custar metade do preço ou até 1/3 do custo do plantio de mudas, e com o manejo! Além disso, o produtor rural já possui todos os implementos e mão de obra para fazer executar as operações e diluindo o custo da restauração no custo das atividades agrícolas. Assim, a muvuca dialoga mais e melhor com o setor produtivo brasileiro, diferente do plantio de mudas, que demanda toda uma estrutura que muitas vezes o produtor (a) não possui.
Socioambiental em função da característica técnica da muvuca, que demanda em 70 a 100 kg de sementes por hectare e para conseguir este volume de sementes é preciso uma muvuca de pessoas, ou seja, indígenas, quilombolas, assentamentos rurais e pequenos produtores são protagonistas neste método, pois são as pessoas que vivem nas florestas e cerrados que podem coletar essas sementes em volume de peso e de espécies.
Sendo assim, a muvuca é altamente inclusiva.

Com todos seus benefícios envolvidos, a muvuca de sementes veio para ficar e ser protagonista na restauração dos 12 milhões de hectares degradados do país.
Para saber mais:
http://www.baobaflorestal.com.br/
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http://lattes.cnpq.br/0013441938677874

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