Confesso que nunca fui um adulto fisicamente muito ativo. Dos 18 até os 30 anos de idade era completamente sedentário, e, além de tudo bebia álcool com muita frequência e intensidade sempre acompanhado da fumaça do Marlboro vermelho. Poxa, que combinação.
Mas, ficava sempre doente. Pelo menos duas vezes ao ano tinha amigdalite e precisava de antibióticos, sem falar nas gripes e resfriados.
Então, com 30 anos decidi parar de fumar. Como é difícil. O cigarro é uma droga que realmente te vicia fortemente. Eu estava acostumado a fumar pelo menos um maço de cigarro por dia.
Na primeira semana quase surtei pela abstinência da nicotina, mas, aguentei firme.
Na verdade, resolvi comprar uma bicicleta para ajudar. Comecei pedalando de manhã na cidade em torno de 10 quilômetros. Acabei me apaixonando pela bike.
De início comprei uma bike de cidade e passei a usá-la para ir para a faculdade. Estava cursando Direito e ia pedalando mesmo que o tempo estivesse ameaçando uma chuva. Era sagrado.
A bike mudou realmente a minha vida, pois, o pedal acima de tudo me ajudava psicologicamente a não fumar de novo e me fazia sentir muito bem fisicamente.
Então um dia fui pedalar numa trilha com uma mountain bike emprestada do meu irmão. Lembro que saímos pelo mato e fomos até uma cachoeira bem perto da cidade. Foi sensacional. Desde então nunca parei de pedalar.
Quer dizer, até o ano de 2016. Em novembro desse ano comecei a sentir uma dor muito forte na articulação do ombro direito. A princípio o médico achou que poderia ser gota. Mas, depois de fazer um check-up, chegou no diagnóstico de artrite reumatoide.
Eu não sabia exatamente como era essa doença, mas acabei descobrindo que a artrite é muito dolorosa tanto fisicamente como psicologicamente porque limita muito os movimentos mais sutis do corpo.
Lembro que até para conseguir trabalhar era difícil. A inflamação acabou acometendo os dedos e era muito difícil fazer as coisas que gostava de fazer. Nessa época eu tocava baixo numa banda que tive que abandonar porque não conseguia mais tocar. Foi um período muito difícil porque as vezes não conseguia pegar minha filha no colo por exemplo.
Por um tempo fiquei muito triste, numa bad completa. Mas, com a medicação a doença teve uma boa remissão tanto que consegui completar o Caminho da Fé sem dor em 2018.
A artrite reumatoide pode ser considerada uma “doença invisível”. Isso porque, ao contrário de estar com algum osso quebrado, as outras pessoas não conseguem enxergar e sequer imaginam a dor que se sente.
A doença invisível é também, por essa razão uma doença solitária. Fiquei sem ter qualquer sintoma por vários anos e sempre pedalando.
A atividade física e um estilo de vida saudável é uma forma de fazer com que a doença não se manifeste novamente. Mas, em 2020 durante a pandemia ela voltou com toda a força. E o pior, a medicação que eu costumava tomar e comprava tranquilamente, a cloroquina, era dita como o remédio que combateria o coronavírus, simplesmente sumiu das farmácias.
Mas, mesmo ganhando de pessoas próximas a cloroquina ela parecia não fazer efeito nenhum nas dores que sentia. Então, depois de algum tempo meu reumatologista prescreveu o metotrexato.
Quando fui ao médico estava com as duas articulações do punho seriamente inflamados, e o dedo médio da mão esquerda já estava se deformando pela doença. Demorou em torno de duas semanas para que a medicação fizesse efeito e aos poucos melhorando, mas, os efeitos colaterais são muito chatos. No dia que tomo (dose semanal) sinto um mal estar como se tivesse tomado um porre, mas pelo menos agora não sinto dor.
A dor é algo muito subjetivo e que mexe muito com nosso psicológico. É por isso que, quando a pessoa se sente deprimida por estar doente e com dor precisa pedir ajuda, seja para a família ou os amigos.
Na verdade, essa pandemia tem me ensinado que a nossa vida é muito rara.
A gente tem que aproveitar todos os momentos de forma intensa fazendo o que se gosta, seja pedalar, visitar uma cachoeira, curtir os amigos e a família.
Se você, assim como eu, tem também uma doença invisível não desanime. A dor e a doença são grandes professoras porque nos ensina a valorizar ainda as coisas mais sutis que, quando estamos sem dor sequer prestamos atenção.
Por isso se concentre em viver o presente e tente ser feliz fazendo o que gosta! É o que desejo! Vicente Conessa.